quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Caminho

Campos de Taboeira
Esgueira - Aveiro
Fotografia: Carlos Pádua
Texto: Jorge Cunha
Vai o caminhante no seu caminho e na sua vida e, como é de regra em quem assim vai, não reparam os seus olhos nas coisas por que passa. Vai metido com os seus pensamentos, a falar com os seus botões, a evocar no seu íntimo algum gosto, ou a remoer com azedume, ou mágoa, ou revolta, algum desgosto, ou simplesmente a pensar em nada, o que também acontece, ainda que isto seja só uma maneira de dizer, porque sempre o pensamento está a pensar em alguma coisa, mesmo que essa alguma coisa não seja mais que um discorrer sem rumo certo, folha levada pelo vento. Podem também os olhos do caminhante estar velados pela névoa da rotina de quem já muitas vezes passou pelo mesmo sítio, sabendo-se como é a habituação uma particular forma de cegueira.
Mas não somos agora esse caminhante. Reparemos, por isso, nesta paisagem, que bem o merece. Deixemos os olhos ir do perto para o longe, ou ao contrário, dos contornos difusos que a distância dá às coisas para a nitidez do que está perto; não deixemos passar despercebida a harmonia do todo, feita da aparente desordem das suas partes; nem este caminho que vai ao longo do campo entre luz e sombra; nem estas árvores que aqui, na beira do caminho, têm as suas raízes, e a sua sombra, e o Outono anunciado.

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

A terra, a água, o homem

Ribeira do Senhorio - Mataduços
Esgueira - Aveiro
Fotografia: Carlos Pádua

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Esteiro


Esteiro de Esgueira

Esgueira - Aveiro

Fotografia: Carlos Pádua




quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Um fio de água no silêncio

Mataduços - Esgueira - Aveiro

Fotografia: Carlos Pádua

Texto: Jorge Cunha

Ao fundo da aldeia a estrada curva, subitamente se aperta, ganha um leve declive, e vai depois descendo sob uma abóbada vegetal que feixes de luz atravessam num jogo de claro-escuro. Combros ladeiam o caminho de um e outro lado, e o silêncio cai do céu, imponderável e cheio de mistério. Ao fundo, onde a azinhaga desemboca na plena luz, está ainda a modesta fonte do Senhorio. Um fio de água cai no pequeno tanque, em baixo, num brando murmúrio que faz, também ele, parte do silêncio.


segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Marcas do tempo

Vista Alegre - Ílhavo

Fotografia: Jorge Cunha


domingo, 18 de novembro de 2007

Descanso

Vista Alegre - Ílhavo

Fotografia: Jorge Cunha


sábado, 17 de novembro de 2007

Harmonia

Vista Alegre - Ílhavo

Fotografia: Carlos Pádua

Texto: Jorge Cunha

Cresceram as árvores segundo a sua particular natureza, tomando as formas que lhes deram os ventos e os sóis. Cresceu a torre da igreja até onde os homens a fizeram subir, dando-lhe as formas que foi de sua vontade dar-lhe. Aqui estão agora, para quem os saiba ver, as árvores, a torre, o céu, a claridade e as sombras, a natureza e o homem, o equilíbrio, a justa proporção - um fragmento de harmonia.


quinta-feira, 15 de novembro de 2007

O largo era o centro do mundo

Vista Alegre - Ílhavo

Fotografia: Carlos Pádua

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

O tempo e o modo

Capela da Vista Alegre - Ílhavo
Fotografia: Carlos Pádua

domingo, 11 de novembro de 2007

Relógio de sol

Vista Alegre - Ílhavo
Fotografia: Carlos Pádua
Texto: Jorge Cunha

Tempos houve em que era o sol relógio bastante, e a prová-lo aqui está, no cimo da coluna que diante de nós se levanta, este relógio de sol. Alguém o talhou no brando calcário, com as ferramentas próprias e as da paciência, que a vida corria então com outros vagares. Fez também o ferreiro a sua parte, ainda que menor, lá está a lâmina de ferro a atestá-lo, é ela que deixa na pedra a sua sombra, nos sulcos que o canteiro abriu, quantas horas já por ali passaram...
Das mãos que isto fizeram não há registo, mãos sem rosto, modesta a ciência que as guiou. Delas ficou porém memória nesta pedra, e em muitas outras porventura, vá-se lá agora saber, que mãos destas não cuidam de deixar assinatura no que fazem, não é a glória da posteridade que as move, só o ganho do pão de cada dia.

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Um banco sob as árvores

Vista Alegre - Ílhavo
Fotografia: Carlos Pádua
Texto: Jorge Cunha

Servem os bancos para a gente neles se sentar e dar às pernas o descanso reclamado, mormente quando os anos de todo o corpo lhes pesam em cima, não é por acaso que são os velhos os seus mais frequentes usuários, ainda que uma outra razão haja também para isso, e que é o facto de, sendo-lhes o tempo já escasso, lhes sobejar tempo, contradição apenas aparente, como é fácil de ver.
Porém, sendo aprazível o sítio, e de feição o momento e a companhia, podem os bancos, além do descanso, dar azo a que se solte a língua, ou o pensamento, ou ambas as coisas, não se julgue que não se pode dar à língua sem pensar, não faltam por aí exemplos que o comprovam.
Aqui, estando os bancos num jardim privado, ao abrigo da devassa de olhares curiosos ou indiscretos, ou até malevolamente bisbilhoteiros, convidam a que se embrenhe o pensamento por caminhos mais romanescos, não faltará quem já ali veja um par de enamorados, bem chegados um ao outro apesar da largueza do banco e da amenidade do tempo, bem sabemos que não são razões de espaço ou de temperatura que isto fazem, todos temos um pouco dessa experiência, faz parte da vida, mesmo da dos puritanos mais assanhados.
Mas enfim, vá cada um aonde o levar a imaginação, são muitos e variados os seus caminhos, não temos que dar sugestões a ninguém, imaginação é coisa que não falta, use-a pois cada um a seu bel-prazer.

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Diante de uma janela

Vista Alegre - Ílhavo

Fotografia: Carlos Pádua

Texto: Jorge Cunha


De duas maneiras se pode estar diante de uma janela: de fora, olhando-a, ou de dentro, olhando por ela para fora.
Agora estamos nós daqui de fora a olhar esta janela, com vagar e sossego, como convém àqueles que, olhando, querem ver e apreciar, e por este modo vamos percorrendo, neste instante em que o tempo parou, os seus contornos em parte apagados pela folhagem que a envolve, os jogos de luz e de sombra, o labirinto de ramos ali à beira. E assim fica um pouco de nós neste recanto, como em nós fica a sua discreta e singela maravilha, a sua paz.
Diferente é o estar de quem está de dentro. Vem à janela e, pelas vidraças, ou abrindo-a, é para além dela que estende o olhar, para ver o tranquilo espelho da ria, ou o arvoredo e o casario defronte, ou alguém que passa na rua, ou simplesmente para espreitar como está o tempo. E não faltam ainda as ocasiões em que os olhos, parecendo estar a olhar para fora, estão apenas a ver o que nos vai por dentro.

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

O rosto da casa

Vista Alegre - Ílhavo

Fotografia: Carlos Pádua


Enigma

Vista Alegre - Ílhavo

Fotografia: Carlos Pádua