Fotografia: Carlos Pádua
Texto: Jorge Cunha
De duas maneiras se pode estar diante de uma janela: de fora, olhando-a, ou de dentro, olhando por ela para fora.
Agora estamos nós daqui de fora a olhar esta janela, com vagar e sossego, como convém àqueles que, olhando, querem ver e apreciar, e por este modo vamos percorrendo, neste instante em que o tempo parou, os seus contornos em parte apagados pela folhagem que a envolve, os jogos de luz e de sombra, o labirinto de ramos ali à beira. E assim fica um pouco de nós neste recanto, como em nós fica a sua discreta e singela maravilha, a sua paz.
Diferente é o estar de quem está de dentro. Vem à janela e, pelas vidraças, ou abrindo-a, é para além dela que estende o olhar, para ver o tranquilo espelho da ria, ou o arvoredo e o casario defronte, ou alguém que passa na rua, ou simplesmente para espreitar como está o tempo. E não faltam ainda as ocasiões em que os olhos, parecendo estar a olhar para fora, estão apenas a ver o que nos vai por dentro.
Sem comentários:
Enviar um comentário